LÍDER DA IGREJA ANGLICANA RENUNCIA APÓS SER ACUSADO DE ENCOBRIR ABUSOS SEXUAIS DE MENORES

 

Cerca de 130 menores foram abusados por um voluntário em campos de férias. Um relatório revelou que Justin Welby, arcebispo de Cantuária, soube há vários anos de abusos sexuais e físicos e não os denunciou formalmente à polícia.

Justin Welby, arcebispo de Cantuária e líder máximo da Igreja Anglicana, demitiu-se esta terça-feira, depois de denúncias de que encobriu abusos sexuais de menores cometidos por um voluntário durante décadas em campos de férias.

A renúncia acontece depois de uma investigação revelar que a sua instituição encobriu abusos sexuais de um advogado e voluntário britânico, John Smyth QC, em campos de férias de verão cristãos.

Justin Welby, líder espiritual de 85 milhões de anglicanos em todo o mundo, soube dos abusos em 2013, já depois de se tornar arcebispo de Cantuária.

O advogado submeteu cerca de 130 crianças e jovens do sexo masculino a abusos físicos, sexuais e psicológicos "brutais e horríveis" ao longo de cinco décadas e em três países diferentes, Inglaterra, Zimbabué e África do Sul.

A investigação revela que Smyth espancou algumas vítimas com uma bengala e utilizou fraldas para estancar o sangue das feridas. Depois, "deitava-se com as crianças e jovens", por vezes "beijando-as no pescoço ou nas costas".

O relatório conclui que John Smyth QC, que continuou a cometer os crimes até perto de morrer, poderia ter sido chamado à Justiça, se o arcebispo o tivesse denunciado formalmente há uma década.

Smyth acabou por nunca ser chamado à Justiça. Morreu em 2018, com 75 anos, quando estava a ser investigado pela Polícia de Hampshire.

Carta de demissão

Na carta de demissão, Justin Welby pede desculpa pelas "falhas e omissões" e confessa que os abusos sexuais cometidos por John Smyth QC são "hediondos". Lamenta ainda não ter garantido uma investigação adequada.


"Quando fui informado em 2013 que a polícia havia sido notificada, acreditei erroneamente que uma resolução apropriada seria tomada", afirma.


De seguida, diz estar "muito claro" que deve "assumir a responsabilidade pessoal e institucional" pelo longo e traumatizante período entre 2013 e 2024.

"Espero que a decisão deixe claro o quão seriamente a Igreja de Inglaterra compreende a necessidade de mudança e o profundo compromisso com a criação de uma Igreja mais segura", refere, acrescentando que sente "tristeza" pelas vítimas dos abusos.

Justin Welby liderou a Igreja durante um período muito conturbado, em que enfrentou disputas sobre os direitos homossexuais e das mulheres.

O seu sucessor enfrentará desafios em manter unida a comunidade anglicana

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