DE OLHO NOS EVANGÉLICOS, PT SELA ALIANÇAS E ESCOLHE PASTORES COMO VICES

 

No lançamento da Frente Evangélica com o prefeito de Diadema (SP) José Filippi, foi anunciado o nome do pastor Rubens Cavalcanti (PV) como seu candidato a vice-prefeito.

Com a cabeça baixa e as mãos espalmadas para o alto, o prefeito de Diadema, José de Filippi Júnior (PT), faz uma oração cercado por um grupo de apoiadores. 

A aliança foi selada em 31 de julho e consolidou a chapa liderada pelo petista, que busca seu quarto mandato na cidade da Grande São Paulo. Com 393 mil habitantes, Diadema vive um avanço da população que se declara como evangélica, o que fez o prefeito buscar pontes.

“É preciso dialogar com esse eleitor, mas não apenas em um debate religioso, e sim na construção de políticas públicas”, afirma Filippi.

Longe dos olhos dos grandes centros, o movimento de aproximação do PT com evangélicos avançou algumas casas em cidades médias e pequenas, parte delas consideradas prioritárias para o partido nesta eleição municipal.

A estratégia vai ao encontro da determinação do partido de buscar se aproximar do eleitorado evangélico nas eleições municipais deste ano, movimento que incluiu o lançamento de um cartilha pela Fundação Perseu Abramo, braço do PT que se dedica à pesquisa e à educação política do partido.

O objetivo é fazer frente ao bolsonarismo e tentar atrair uma parcela do eleitorado evangélico, sobretudo os mais pobres que foram beneficiados por programas sociais do governo Lula (PT), caso do Bolsa Família, do Prouni e do Minha Casa Minha, Vida.

Levantamento feito pela Folha aponta que ao menos 75 candidatos a vereador pelo PT se identificam como bispos, pastores e missionários. Dentre eles estão candidatos que concorrem nas capitais, caso da Bispa Zildene Carvalho, em São Paulo, e do Pastor Wellington do Pinheiro, em Maceió.

Dos 13 candidatos a prefeito do partido nas capitais, o PT concorre com uma evangélica em Campo Grande: a deputada federal Camila Jara. Eleita em 2022 como a parlamentar mais jovem da bancada petista, ela atuou para aproximar os evangélicos da candidatura de Lula na eleição presidencial.

Ela recorda que, nos últimos anos, houve uma forte associação entre evangélicos e o bolsonarismo, movimento que cresceu de forma paulatina desde 2016: “Lembro de estar na igreja e começarem orações pela nação, depois foi avançando com o pedido para livrar o país do mal. A campanha de ódio foi tão grande que ser petista se tornou sinônimo de doença.”

Mesmo diante desse cenário, ela afirma que a aproximação do PT com os evangélicos é natural e diz que o partido defende a essência do Cristianismo: justiça social, combate à pobreza e direitos humanos.

“Embora o PT e os evangélicos possam divergir em algumas pautas sociais, há valores comuns que podem ser explorados, como o combate à desigualdade. Enfatizar esses pontos em comum é o que tem facilitado o diálogo e diminuição da resistência”, avalia.

Em Dourados, segunda maior cidade de Mato Grosso do Sul, o PT também disputa com um candidato evangélico: o advogado e professor Tiago Botelho. Ele estreou nas urnas em 2022, quando ficou em terceiro lugar na disputa pelo Senado e agora mira a prefeitura.

Nas cidades que são as principais apostas do PT na Bahia nesta eleição –Feira de Santana e Camaçari– a chapa tem vices evangélicos. Também foi escolhido um pastor como vice do PT em Santo Amaro, cidade do Recôncavo baiano.

Em Camaçari, quarto maior colégio eleitoral do estado e cidade estratégica da Grande Salvador, o candidato Luiz Caetano (PT) escolheu como companheira de chapa Edeilza Sousa Santos (PSB), mais conhecida como Pastora Déa.

Criada na periferia de Camaçari, Déa é fundadora do Instituto Mãezona, que atende pessoas em situação de vulnerabilidade, e pastora da Igreja Novo Tempo, no bairro Novo Horizonte. Sua trajetória política começou em 2020, quando foi candidata a vereadora pelo Republicanos, mas não foi eleita.

Nesta eleição, foi convidada para ser candidata a vice-prefeita. Seu perfil foi considerado o ideal para compor uma chapa plural e heterogênea.

“A pastora Déa é mulher, negra, uma pessoa qualificada e faz um trabalho de acolhimento que é uma das metas do nosso governo, que é cuidar de gente”, afirma o petista.

Seu desafio nesta eleição será o de atingir um eleitorado mais conservador na disputa contra o vereador Flávio Matos (União Brasil), apoiado por legendas de direita como PL e Republicanos.

Em Feira de Santana, segunda maior cidade da Bahia, o deputado federal Zé Neto (PT) concorre à prefeitura pela sexta vez e terá o cantor gospel Sandro Nazireu (Podemos) como candidato a vice.

Nazireu começou sua trajetória na música como tecladista da Banda Mel, um dos grupos pioneiros do axé. Mas há quase duas décadas se dedica ao segmento gospel, com uma carreira de sucesso.

Decidiu ingressar na política em 2022, quando foi candidato a deputado federal pelo PP no campo de oposição ao PT –apoiou Jair Bolsonaro (PL) para presidente. Promoveu a campanha “Crente Vota em Crente”, mas saiu das urnas com 10 mil votos e não foi eleito.

Desde então, Nazireu aproximou-se do governo Jerônimo Rodrigues (PT). Como empresário do ramo fonográfico, coordenou edições do festival gospel Canta Feira, evento patrocinado com recursos do governo baiano.

Também pesou na escolha o simbolismo de ser um nome que veio do campo adversário, liderado pelo candidato a prefeito José Ronaldo (União Brasil), cujo grupo comanda a cidade desde 2001. O passado bolsonarista do candidato, contudo, irritou aliados da esquerda.

Em Diadema, a definição do pastor Rubens como vice de José de Filippi Júnior também surpreendeu parte dos aliados, mas não houve resistências. Além de pastor da Igreja Assembleia de Deus Ministério de Madureira, Rubens é servidor da prefeitura desde 2006.

Filippi Júnior argumenta que a aproximação do PT com os evangélicos vem desde 2002, quando Lula teve apoio de várias denominações cristãs. Destaca que afastamento deste eleitorado foi “baseado em forte disseminação de fake news” por bolsonaristas.

“Decantado um pouco esse ódio estimulado pela extrema-direita e pelo bolsonarismo, é preciso resgatar esses laços. Costumo falar que Diadema é um retrato 3×4 do Brasil, pelas características daqui. E o que vemos é a reabertura do canal de diálogo com o público evangélico”, avalia. (Fonte: Jbr)

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